segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Sr. Ataliba


Um dos sonhos da filha Dôra, é mostrar para as pessoas que estão atingindo uma maior longevidade no tempo, que a leitura pode ser um caminho muito saudável para essa nova fase da vida.
Ela conta que o Sr. Ataliba estava muito deprimido por não poder mais ir para o seu querido sítio, faz um ano que ele deixou a lida da roça. Nos primeiros meses longe de seus afazeres, sua tristeza trazia aos familiares uma grande preocupação. Os antidepressivos que foram indicados pelos médicos, de forma alguma, conseguiram tirá-lo dessa apatia a tudo e a todos. Pelo contrário, só conseguiram deixá-lo ainda mais distante e sem perspectiva de vida, aumentando a falta de esperança de que ele reagisse e entendesse que agora teria que parar e vislumbrar outra realidade junto à sua família, aproveitando o melhor que poderia, junto à esposa, filhos, netos, bisnetos e tataraneto. Mas ele estava mergulhado nessa tristeza profunda.
Luz no fim do túnel, a medicação fora substituída por livros. E hoje, aos poucos ele vem tomando o gosto pela leitura, até conta a história que está lendo para a esposa, para as filhas e até para os netos. E dia desses, parou no meio de umas páginas do livro 1808 e disse que não iria continuar mais pois achava um absurdo o que faziam com os escravos. A mãe de Dôra falou com ele para continuar que, mais à frente, a Princesa Isabel iria libertá-los. 
Isso nos mostra que ele está tendo acesso a um mundo com o qual não pode ter contato por ter dedicado a sua vida ao sítio, no cultivo e no trabalho duro da terra, onde construiu a sua própria história.
/Texto: Luiz Cláudio & Dôra Borges

"O que a gente realmente quer é poder cuidar em sossego das nossas plantas num jardim ou num vaso, bons livros para ler, bons filmes para saborear, música para ouvir, companhias para abraçar, belas memórias para nos acompanhar, não importa. O aprendizado de uma boa solidão que não é isolamento." 
/Trecho do livro: O tempo é um rio que corre - Lya Luft.

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